sábado, 13 de fevereiro de 2016

LÍNGUA PORTUGUESA: UM ENSINO QUE PRECISA SER REPENSADO!

















ARTIGO ESCRITO POR DIENI KELLY DE LIMA CORREA Graduada em Licenciatura Plena em Letras (UNEMAT- Campus de Sinop)
  
O presente estudo vem analisar a questão do ensino da Língua Portuguesa, como está sendo trabalhado. O objetivo do trabalho é mostrar que língua, identidade, cultura e sociedade são termos inseparáveis. Para melhor debate foi feito uma síntese de como alguns educadores trabalham esses termos na sala de aula. Enfatiza as mudanças do século XXI em relação a formação de professores de português e a importância dessa mudança. O trabalho faz também um pequeno esboço da importância de estudar gêneros textuais, dando ênfase no gênero música. Mostra a visão de alguns teóricos em relação ao tema, o que é preciso fazer para melhorar o Ensino da Língua Portuguesa qual o papel do educador de Português.  

A língua é a identidade e cultura de um povo. Pessoas que falam a mesma língua conseguem comunicar-se umas com as outras, pois apesar de diferentes sotaques, diferentes falas há o uso de uma mesma língua. A língua que falamos, é uma língua viva que sofre constante mudança entre uma cultura e outra.

 O teórico Saussure diz que a língua é um fato social que tem diversas faces, sendo assim é um sistema autônomo de significação, ou seja, a língua é cheia de significados, um sistema de signos arbitrários que muda de acordo com cada contexto. Na concepção de Saussure a língua deve ser pensada quanta forma e estrutura. Cada elemento se define como um todo, ou seja, pela posição que ocupa na rede de relação que constitui o sistema total da língua. O ensino da Língua Portuguesa sempre foi algo voltado para gramática normativa. Um ensino plenamente pautado em regras, domínio da norma culta. Um ensino que não se preocupava com o conceito de língua, identidade e cultura.
 Alguns gramáticos pensavam na língua com o algo sistematizável, não aceitavam as mudanças lingüísticas presentes na sociedade. 
A discussão em relação às variações lingüísticas é muito antiga, começou com Saussure no curso de lingüística geral no século XIX e percorre até hoje. São vários os teóricos que discutem sobre essa questão. Veremos no presente trabalho a opinião de alguns teóricos e algumas propostas para melhorar o ensino. Temos que entender a funcionalidade da língua.
 A preocupação básica do ensino tradicional é fazer com que o docente domine a norma culta, ignoram as variações lingüísticas presente no âmbito escolar. BAGNO (2008) afirma que em algumas escolas no ensino da Língua Portuguesa, alguns professores trabalha apenas gramática normativa, não valorizam as variedades lingüísticas. Em algumas escolas alguns educadores não se têm trabalhado a partir de um plano para enriquecer a competência lingüística de seus alunos. Vivemos em uma sociedade cuja qual, a concepção língua, linguagem e sociedade são esquecidas por muitas pessoas. 
 È preciso que alguns educadores repensem o conceito de língua, cultura e identidade. 
O papel da escola é preparar o individuo para viver em sociedade, mostrando eu existem diversas culturas, identidade em por isso a língua não pode ser visto como algo pronta e acabada. Quando o discente é totalmente gramaticista, além de causar o bloqueio no desenvolvimento dos docentes, fazendo com que se sintam incapazes, cometem o preconceito lingüístico.

 Atualmente, diversos lingüistas, ressaltam a importância das variações lingüísticas no ensino de língua materna, pois a mesma, além de provar que nossa língua continua viva e dinâmica, desmistifica o mito da “unidade lingüística”. Murrie (1994) coloca que “A língua está em constante mudança, ela vária de acordo com as necessidades sociais de uma determinada época e os falantes e escritores se adaptam as transformações”. (p.73) Bagno, Murrie e Cagliari afirmam que na língua portuguesa, como em qualquer outra língua, tem o certo e o errado somente em relação à estrutura. Sendo assim não existe língua certa ou errada, feia ou bonita, existe uma língua que é viva, heterogênea que pode mudar a qualquer momento. Uma palavra que existe hoje pode não existir amanhã e vice-versa. 
O professor de Língua Materna deve apostar na lingüística, pois a língua é um fator social, a pessoa já nasce com ela depois ele só vai praticá-la quando entra em contato com a sociedade. É de suma importância prover uma educação lingüística em sala de aula, para que se evitem os preconceitos lingüísticos, os professores devem deixar o modelo de ensino tradicionalista, onde as crianças estudam só regras gramaticais, as crianças, os estudantes, a sociedade em geral tem que trabalhar juntos contra o preconceito lingüístico. O teórico Marcos Bagno , em se livro Preconceito lingüístico o que é e como se faz, afirma que é preciso refletir como os professores de língua materna estão ministrando as aulas de Português. 
O que Marcos Bagno quer nos mostrar é que alguns educadores não incentivam o uso das habilidades lingüísticas, não deixa que o aluno se expresse. Eis ai um ponto para discussão. Os alunos são corrigidos muitas vezes de forma rígida, na maioria das vezes é ignorado, cria-se daí um sentimento de incapacidade no mesmo. [...] “a escola passa á sociedade a idéia de que escrever bem é escrever correto, e a sociedade cobra da escola que ensine a escrever correto, num movimento curricular que é raramente quebrado.” (ILARY, RODOLFO; BASSO, RENATO. “O Português da gente: a língua que estudamos a língua que falamos”. (p. 234) 

1. O ensino de língua materna no Brasil no século XXI e as mudanças. Atualmente, diversos lingüistas, ressaltam a importância da variação lingüística no ensino de língua materna, pois a mesma, além de provar que nossa língua continua viva e dinâmica, desmistifica o mito da “unidade lingüística”. BAGNO, STUBS, GAGNÉ afirmam que O ensino de língua materna no Brasil no século XXI, se encontra numa nítida fase de transição. A maioria dos professores que estão se formando agora, já tem a consciência de que não é mais possível simplesmente dar a costas a todas as contribuições lingüísticas modernas e continuar a ensinar de acordo com o outro lado [...], ainda não se sabe de que modo concretizar essa consciência em sala de aula. De acordo com os três teóricos á cima, os professores tem a consciência que a língua é heterogênea e de que é importante prover uma educação lingüística em sala de aula, porem não está sabendo colocar isso em prática. Moita Lopes e Rojo (2004:43-46) também afirmam que [...] "Ensinar a usar e a entender como linguagem funciona no mundo atual é tarefa crucial da escola na construção de cidadania”. [...] Os estudos das variações lingüísticas são meramente importantes para que se acabe com o preconceito lingüístico e principalmente com o mito que brasileiro não sabe falar o português correto, que o português verdadeiro é o português falado em Portugal. 
A escola deve discutir os valores sociais atribuídos a cada variante lingüística, mostrando que em alguns lugares essas variantes não serão aceitas. Para que se evite o preconceito lingüístico é importante que todos saibam o que são variações lingüísticas.

 Hoje em dia é viável pensar em uma educação diferenciada, onde o educador deixe o modelo de ensino tradicionalista e passe a avaliar todas as habilidades dos docentes: habilidade de comunicar-se com os outros, de expor suas idéias, de interagir na sociedade. Um modelo de ensino voltado para a lingüística e não para a gramática pura. Os livros de língua portuguesa atuais, já mostram a presença dos gêneros textuais e dos gêneros discursivos trabalhado na sala de aula.
 De acordo com Moita Lopes e Rojo, a linguagem tem que ser trazida para o centro da vida escolar, tendo em vista o papel do discurso na sociedade. Os professores devereriam trabalhar Com gêneros textuais que promova debates, trabalhar com gêneros que desperte o lado crítico do docente, como textos de opiniões, charges, propagandas entre outros. Após trabalhar esses gêneros seria importante que o docente socializa-se aquilo que ele aprendeu. Através do gênero da música, podemos analisar os aspectos culturais de uma comunidade. 
O rap, por exemplo, é um estilo musical escutado a maioria das vezes em comunidades carentes. Nas letras de um rap na maioria das vezes está relacionada com problemas do nosso cotidiano. A linguagem desse estilo musical é uma linguagem pesada cheia de gírias, algo que muitas vezes a sociedade que não vê sentido nas letras, ou não pensam sobre, acabam discriminando quem escuta. Por exemplo, o rap das armas, música do filme tropa de elite. Morro do Dendê é ruim de invadir Nos com os alemães vamos se divertir Porque no Dendé vou dizer como é que é Aqui não tem mole nem pra DRE Pra subir aqui no morro até a BOPE treme Não tem mole para o exercito, civil nem pra PM Eu dou maior conselho para os amigos meu Mas morro do Dendê também é terra de Deus.

 Nessa letra podemos fazer a leitura de como é as grandes favelas, os chefes dali não gosta de policiais rondando o local. Em outro trecho da rap podemos ver o porquê da raiva pelos policiais. “Porque esses alemão , são tudo safado Vem de garrucha velha dá dois tiro e sai vuado”. Temos ai a denuncia, a reclamação que aquela comunidade faz em relação à covardia da Policia que invade o morro de surpresa. Alguns estudiosos e o próprio PCNS( Parâmetros Curriculares Nacionais) falam da importância de estudarmos gêneros textuais. Dolz & Schneuwly (2004) apontam para a importância dos gêneros textuais no ensino de língua materna, argumentando que o desenvolvimento da autonomia do aluno na escrita e na leitura decorre do domínio do funcionamento da linguagem em situações reais de comunicação, exemplificadas pelos gêneros textuais, visto que é por meio deles que se realiza nas práticas sociais. 
A partir do momento que o educador trabalha com gêneros pensando na funcionalidade da língua, ele forma cidadãos críticos, capazes de ler o mundo. É esse um dos papéis do educador. Os parâmetros curriculares dizem que: “O ensino da língua portuguesa deve se dar num espaço em que as práticas de uso da linguagem sejam compreendidos em sua dimensão histórica e em que as necessidades da análise e de matização teórica dos conhecimentos lingüísticos decorram dessas mesmas práticas”.(PCN,p.34) Os PCN assumem como papel da escola formar sujeitos críticos, questionadores capazes de investigar, articular, descobrir de forma ativa os objetos do mundo, a linguagem a que eles são expostos, além disso, oferecer o convívio do aluno com a linguagem trata-se de oferecer-lhe o convívio com práticas sociais de compreensão e produção de textos e de análise lingüística, nas modalidades orais e escritas, de maneira constante e progressiva e em sua diversidade. 

CONSIDERAÇÕES. 
O ensino da Língua Portuguesa, é um estudo muito complexo. Vimos que existem diversas culturas, várias identidades presente em nossa sociedade. “[...], por essa heterogeneidade de falares é que a língua se torna complexa, pois por ele se instaura o movimento dialético da língua: que está sendo, que continua igual, e da língua que vai ficando diferente”. Percebe-se que muitas pessoas ignoram ou não conhecem as variações lingüísticas, muitas vezes julgam o individuo pela forma como ele fala, alguns professores tratam as variações lingüísticas como “erro”, como vimos no presente trabalho, Marcos Bagno diz que esses educadores ao ignorar as variantes estão cometendo preconceito lingüístico. Para os gramaticistas, dominar a norma culta é falar o português “correto”.

 Conforme BAGNO (2009) Compreender a linguagem com todas as suas variações lingüísticas não como variantes erradas, mas como termos criados historicamente por um determinado grupo, têm sido um caminho em construção no campo do ensino da língua materna nas escolas. O combate ao preconceito lingüístico, como são tidas estas expressões que fogem à norma culta, que estão muito presentes no nosso contexto enquanto educador, é um processo, é um trabalho que requer também buscar um olhar antropológico. Pois a linguagem é um rio caudaloso, longo e largo que nunca se detém em seu curso, toda a língua varia nas diferenças fonéticas, sintáticas, lexicais, semânticas e no uso da língua, dentre outros. (BAGNO, 1999). 

Entende-se que através dos gêneros textuais podemos prover uma educação voltada para língua quanto função. Através de uma música podemos conhecer a cultura de alguém, sua identidade. 

 REFERÊNCIAS.
 ANTUNES, Irandé: Língua, texto e ensino: outra escola possível. São Paulo: Parábola Editora, 2009. ILARY, Rodolfo, Basso, Renato. “O português da gente: a língua que estudamos/ a língua eu falamos”. São Paulo: contexto, 2006. MURRIE, Zuleica de Felice, O ensino do Português: do 1° grau universidade. 3° edição. São Paulo: contexto,1994. WOOD Barbara, “História concisa da lingüística” Ministério da Educação e do Desporto. Parâmetros Curriculares Nacionais: Língua Portuguesa, Brasília, Secretaria de Educação Fundamental, 1997. BAGNO, Marcos. Preconceito lingüístico, o que e, como se faz. 2° ed., São Paulo: Loyola 2008. BENTES, Anna Christina: gênero e discurso /Inês Signorini. Ed. São Paulo: Parábola Editorial, 2008. . DOLZ, J. & SCHNEUWLY, B.Gêneros orais e escritos na escola. Trad.: Roxane Rojo e Glaís Sales Cordeiro. Campinas: Mercado de Letras, 2004 http://www.vagalume.com.br/mcs-cidinho-e-doca/rap-das-armas.html#ixzz1e3BuQi9a

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