domingo, 21 de fevereiro de 2016

Como lidar com a Indisciplina Escolar

No início de 2015, foi divulgado o resultado de uma pesquisa feita pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) que aponta o Brasil como sendo o país que mais perde tempo em sala de aula contendo a indisciplina dos alunos.
Essa organização pesquisa dados em países como Finlândia, Suécia, República Tcheca, Malásia, Holanda, Estados Unidos, México, Estônia, França, Canadá, Chipre, entre outros.

Os resultados apontaram números alarmantes sobre o uso do tempo em sala de aula no Brasil:
Uso do tempo  na sala de aula brasileira: 13% em burocracia; 20% para acalmar bagunça; 67% na aula efetiva
  • 20% do tempo é utilizado para acalmar os alunos e organizar a classe
  • 13% do tempo é utilizado para lidar com assuntos burocráticos
  • 67% do tempo, pouco mais da metade, é usado para a aula propriamente dita
Para ter uma ideia da situação, a média do OCDE é de 13% para as questões disciplinares.
A pesquisa, segundo dados divulgados pelo G1, também revela outros números: 60% dos professores apontam ter alunos-problema e o Brasil lidera o ranking de intimidação verbal entre alunos e professores.

O QUE É UM ALUNO-PROBLEMA?

  • Um aluno que conversa muito?
  • Que tem um comportamento agressivo ou expansivo que acaba atrapalhando a aula?
  • Que foi mal alfabetizado e tem dificuldades na escrita?
  • Que apresenta algum transtorno de aprendizagem?
  • Que tem hiperatividade, TDAH ou Síndrome de Asperger?
Ao certo não há um consenso sobre quais são as características de um aluno-problema.
Rotular os alunos como sendo um problema e transferir a culpa do fracasso escolar para o próprio educando parece ser algo perverso, sabendo que lidamos com crianças e adolescentes que, muitas vezes, têm dificuldades em compreender o que sentem e explicar ou resolver seus conflitos de maneira madura.
Rotulação dos alunos ou classes gera revolta e é um escorregão ético por parte do profissional da educação.
A indisciplina escolar pode começar sendo tratada assim: despindo os alunos de rótulos e tendo uma visão mais otimista sobre a educação.
Fazer longos discursos em sala de aula sobre a importância de estudar, lembrar aos alunos que o conhecimento é para eles e não para o professor, passar 20 minutos dando bronca, são atitudes que vão contribuir para a indisciplina pelo simples fato de isso gerar tédio nos seus alunos.
Sim, você pode estar deixando seus alunos entediados e, como citado anteriormente, são crianças e adolescentes que não conseguem compreender que sentem tédio e o que devem fazer para lidar com isso.
Ao invés de toda essa chatice da sua parte, professor, que tal motivar os alunos para uma atividade dinâmica e desafiadora que instigue a sua curiosidade?

O QUE É INDISCIPLINA ESCOLAR?

Geralmente, quando pensamos em indisciplina, automaticamente relacionamos com conversa, bagunça e até violência na escola.
A conversa pode atrapalhar a aula, mas pode ter certeza de que uma turma que não conversa é bem pior para desenvolver conhecimentos. Quando há conversa, há diálogo, troca de vivências, relacionamento entre os educandos e entre o professor também.
O que devemos fazer com uma turma que gosta de conversar é usar isso a nosso favor!
Partindo da ideia de que, numa boa partida de futebol, quem corre é a bola e não o jogador, o professor deve falar menos e deixar que os alunos produzam mais: conversar, debater, discutir, propor soluções, trocar ideias, opinar, problematizar, analisar, e aprender significativamente.
Professor que fala muito acaba se desgastando e desperdiçando aqueles 67% do tempo que sobra para a explanação do conteúdo, pois a média de atenção do aluno é de, no máximo, um minuto e meio para cada ano de idade.
Portanto, um aluno de 10 anos só consegue ouvir o professor com atenção por, no máximo, 15 minutos (1,5 x 10). Isso explica por que aquela sua aula expositiva não funciona.

O PROFESSOR TEM CULPA PELA INDISCIPLINA?

Colega professor: somos profissionais. Desde o início da nossa formação sempre soubemos com quais ossos do ofício deveríamos lidar.
Se coloco todas essas questões para questionamento, é pelo fato de ser nosso trabalho.
Claro, existem casos de indisciplina que não são fáceis de lidar e devem contar com um acompanhamento especializado.
A profissão que escolhemos exige constante aperfeiçoamento, um eterno buscar saber mais e, devido a isso, imagino, você está lendo este texto e refletindo comigo.
O que precisamos fazer imediatamente é, como diz Sílvia Gasparian Colello, parar de jogar o “jogo da culpabilização”:
  1. a escola culpa a família que não educa;
  2. a família culpa a escola;
  3. família e escola culpam as mudanças na estrutura familiar causadas pelas imposições da atualidade.
No meio desse jogo, está o nosso aluno pedindo ajuda, olhar e atenção.
Fica o meu convite: vamos repensar nossa prática pedagógica?

COMO COMBATER A INDISCIPLINA

A reflexão sobre nossas ações deve ser parte do cotidiano, não apenas no âmbito profissional. Repensar significa comemorar os acertos e corrigir os erros — este é o caminho que nos leva ao sucesso.
Há uma série de ações, das mais simples às mais complexas, que precisamos pensar a respeito de nossa prática dentro e fora da sala de aula.
A lista abaixo propõe caminhos que vão lhe ajudar em sua própria organização, proporcionando a segurança necessária aos alunos em relação à figura de autoridade que está diante deles. Isso irá contribuir para combater os principais problemas de disciplina, seja na Educação Infantil, Ensino Fundamental ou Médio.

 ESTABELEÇA AS REGRAS DESDE O PRIMEIRO DIA DE AULA

“A primeira impressão é a que fica”. Quem não conhece esse ditado? Pois é, ele traduz exatamente a postura que o professor deve ter desde o primeiro dia de aula.
Dite as regras do jogo para que os alunos saibam jogar. Dizer o que se espera da criança ou do adolescente é o primeiro passo para que façam o que é estabelecido.
Exigir silêncio e compromisso quando já ninguém respeita é impossível.

ASSUMA QUE O ALUNO DIFÍCIL É UM DESAFIO PEDAGÓGICO E NÃO “UM SACO”

Quem nunca presenciou os professores numa sessão desabafo no momento do intervalo?
Geralmente os alunos difíceis, aqueles que nos incomodam e nos tiram do sério, tornam-se uma pedra no sapato e acabamos despejando culpas sobre eles.
Quando temos um caso assim, devemos tomar como um desafio a ser superado, pensar de que maneira resolver esse quebra-cabeça. Tome como um desafio pessoal ou profissional.
No momento em que você considerar o aluno “um saco”, pode ter certeza de que isso prejudicará ainda mais a relação entre vocês e vai afetar a aprendizagem. Conquiste seus alunos. Faça-os jogar no seu time
 TENHA PAIXÃO PELO CONHECIMENTO

Um colega meu, professor de Geografia, ao longo de suas aulas, despertou a curiosidade dos seus alunos para o saber que ele adquiriu ao longo da sua trajetória de magistério.
Os educandos começaram a pesquisar, por conta própria, capitais de países para questionar o professor. Eles sonham com o dia em que o mestre não saberá uma resposta.
Esse meu colega é um professor fantástico: sabe muito e, por ter paixão pelo conhecimento, conquista o respeito dos seus alunos e desperta neles o gosto pela aventura do saber.
 FAÇA DA SALA DOS PROFESSORES UM LUGAR PARA APRENDER MAIS SOBRE SEUS ALUNOS

Voltamos à sala dos professores. Imagine um lugar em que todos, em meio a cafezinhos, dividam experiências que dão certo em determinadas turmas.
Sem medo de repartir conhecimentos e informações, professores que são uma equipe ajudam-se mutuamente.
Às vezes a experiência que o colega divide pode mudar o rumo dos nossos planos de aula e mudar o comportamento dos educandos. Não custa tentar.
 EVITE COMPARAÇÕES

Os alunos não gostam e não merecem comparações.
Em primeiro lugar, por que a educação não é nenhuma competição. O mundo por si só estimula a competir o tempo todo, não precisamos reforçar essa premissa. Segundo, pois as comparações nada mais são que um escorregão ético.
As informações sobre alunos, turmas e professores devem ser divididas apenas entre os profissionais envolvidos com o processo educativo.
TENHA O HÁBITO DE FAZER REGISTROS

Nem precisa fazer essa atividade/assinar esse recado. Até a semana que vem, o 

professor já vai ter esquecido mesmo!.

Ai, ai. Com essa frase o respeito para com o professor já era. Tenha o hábito de fazer anotações e cumpra o que foi estabelecido, faça memória do que foi dito, exija do seu aluno. Nada pior do que um professor esquecido. 
Infográfico: as qualidades de um professor que tem autoridade (e não é autoritário)

Fonte: WWW.lendo.org

2 comentários:

  1. Quando a gente sonha "quando eu for a regente da sala...", a realidade é bem diferente da expectativa. Como profª do 1º ano, numa sala com um aluno com NE e outros alunos com TDAH, dar aulas todos os dias é um grande desafio. Tento não me estressar, mas na maioria dos dias saio esgotada da sala. Muitos casos de indisciplina, de preguiça, de descaso... quem quer aprender mesmo e consegue focar, são muito poucos. O mais triste é quando converso com os pais e os mesmos não estão nem aí. E o mais triste mesmo será no momento em que eu entregar as primeiras notas vermelhas no boletim e o pai dizer que a culpa é minha.

    Procuro dar aulas dinâmicas, não me estendo muito nas explicações, mas nem todos os alunos estão preocupados ou querendo aprender. O negócio é brincar. E 90% dos casos de indisciplina na escola são de alunos que não recebem disciplina dos pais, não respeitam os pais e tb não respeitam professor, coordenador, etc. Fique triste pensando no futuro do nosso país.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Jac você falou tudo, grande parte da indisciplina dos alunos é por falta de disciplina dos pais, estão esquecendo que educação doméstica não vem da escola, nosso papel é apenas alfabetizar e letrar esses alunos, mas acabamos nos tornando pais e mães, e infelizmente isso está errado!

      Excluir